quarta-feira, 24 de março de 2010

Amor depois da vida....



“...por mim dispensava a missa mais logo, mas a tua mãe acredita que da quantidade de missas depende a qualidade da tua vida no céu e não quero fazer-lhe a desfeita.

para mim, a tua vida no céu é a vertigem azul da felicidade e da paz, não depende de missa nenhuma, de padre nenhum, és livre para vogar pelos espaços siderais e não imaginas como, por vezes, te invejo a facilidade com que circulas em torno da luz.

não foi sempre assim e tu sabes. houve momentos em que desejei roubar-te o azul e privar-te da paz etérea do céu, tal era a vontade de te trazer novamente para o mundo dos vivos, de novo para dentro da minha carne, de te ouvir, como sempre, a respirar ao meu lado e te ver a dar colo aos filhos, pelo menos até que ficassem mais altos... mas, entretanto, passaram dez anos e cada vez mais me convenço de que ter saudades dos que partiram é puro egoísmo dos que ainda cá estão. coisa de humanos,

tu sabes,

mas que deixa de ter cabimento quando nos libertamos do corpo e do peso e transbordamos para fora do mundo comum.

saudades para quê?

dizes tu,

saudades do quê se vamos voltar a estar juntos?

a verdade é que há quem faça da morte a derradeira paragem do tempo, quem chore uma ausência como se fosse para sempre, quem não se convença de que morrer, como dizia o poeta, é só não ser visto.

é o título do meu próximo livro, sabias?

é claro que sabias, “morrer é só não ser visto”, é o título do livro, o mesmíssimo verso que, há dez anos atrás, escolhi para a capa do livro da tua missa do trigésimo dia.

nessa altura, ir à missa ainda era importante, como se ficasse mais perto de ti, mas agora já não. agora as missas em tua honra nos dias vinte e nove de junho não fazem sentido, nem sequer quando há um número redondo, quando faz uma década da tua morte.

dez anos, meu querido, DEZ anos!, os nossos filhos enormes, ela com quinze e ele quase com doze, agradeço todos os dias termos podido fazê-los a meias, são lindos!, aquela raiva de me teres deixado sozinha diluiu-se há que tempos,

tu sabes.

sabes bem que reparo, todos os dias, que não nos privámos da companhia um do outro, apenas já não nos tocamos,

é tudo.

a frequência de amor em que vibras é demasiado subtil para a densidade que habito. por mais que me esforce por elevar a alma à efervescência da tua, estou sempre cercada de corpo.

achei graça, por isso, ao facto de me teres posto o braço por cima dos ombros na quarta-feira passada, ao tom comovido com que vieste da luz para me ver, à prova irrefutável com que quiseste brindar-me, cumprindo, enfim, a promessa de há muito.

“o primeiro a morrer tem de voltar para contar.”

já tinhas voltado outras vezes, eu sei, mas, nesse dia, quiseste que a prova fosse mais do que a premonição do costume, um sorriso no espelho, uma brisa, um ruído e foi mesmo, nesse dia foi muito mais do que isso e tive a certeza de que estás vivo.

dez anos depois de um camião destravado e guiado por um senhor cujo apelido era anjos e que não via de um olho te ter engolido; dez anos depois de me ter ajoelhado na estrada, ao teu lado, e de te ter implorado

não morras

não morras

não morras..."




Inês de Barros Baptista

In “morrer é só não ser visto”

quarta-feira, 17 de março de 2010

POR MIM




"Esse é o teu amor por mim. Quando te olhas todas as manhãs, e tentas novamente aceitar-te. Esse é o teu amor por mim. Quando te alimentas adequadamente para o teu corpo não adoecer. Esse é o teu amor por mim. Quando te ofereces pequenos presentes. Porque tu mereces. Porque eu mereço que tu mereças.

Quando alcanças a maioridade do ser. Quando me alcanças nas alturas. Quando sonhas comigo, me sorris. Esse é o teu amor por mim. Não quero que escrevas. Só quero que sintas, que sintas esse amor por mim (o amor que tens por mim).

Cada lagoa que olhas, olhas por mim. Cada pôr-do-sol, cada estrela cadente que contemplas, dás-me um pouquinho desse prazer. Cada memória que tens, tem-na por mim. Fá-lo por mim. Cada ser humano que abraças, cada olhar que tocas, fá-lo por mim. Ama por mim.

Não posso estar aí, mas sinto a matéria por cada um de vocês, por cada ser humano que honra o que sente. Que vê o seu coração voar de encontro às alturas. Cada vez que te apaixonares, fá-lo por mim. Cada vez que utilizares a minha luz para amar, contemplar e viver, vais sentir-te mais, vais dar mais e vais unificar o céu e a terra por força da nossa união."


MAIS LUZ – Pergunte, o Céu Responde,
de Alexandra Solnado

sexta-feira, 5 de março de 2010

AMOR



E ontem o AMOR aconteceu assim....

Simples

Intenso

Verdadeiro...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Trato



TRATO

Se não conseguires fazer o que tens de fazer, pelo respeito inequívoco pelo que és, fá-lo numa primeira fase por mim. Pelo amor incondicional que tenho por ti e por todos aqueles da tua espécie. Primeiro, faz coisas – para ti – por mim. Depois, ao começares a sentir o vento agradável de mudança, vais começar a compreender. Vais começar a render-te. Vais encontrar-te. Desde que sejas livre. Desde que sejas fiel. A ti.

Alguma vez já te disse que te amo? Que sinto o que tu sentes? Que sofro o que tu sofres? Apesar de eu saber porque é que sofres, não posso escolher por ti nem posso aliviar o teu sofrimento. A não ser por estas palavras.

Amo-te por te responsabilizares pela tua vida e pela tua energia. Amo-te por saberes que a situação em que estás é fruto das tuas escolhas anteriores. Amo-te por te entregares ao céu e ao teu próprio coração despenalizando tudo o resto. Amo-te por sentires. E por me sentires.

Fica ciente desta nossa relação, e faz este trato comigo. Depois, aos poucos, vais começar a habituar-te a fazer para ti. Por ti. Esse é o tempo da essência. É o tempo em que vais buscar as tuas mais infinitas inspirações. É quando tudo volta a fazer sentido e começas a compreender os motivos de tão longas estradas que te trouxeram até aqui.


MAIS LUZ – Pergunte, o Céu Responde,
de Alexandra Solnado